A BRALANDA E O IMPACTO AMBIENTAL PROVOCADO NA MATA ATLÂNTICA DO SUL DA BAHIA.

POR:Guilherme Theofilo/ Iracilda Mascarenhas e Erlângela Kraam
FÁBRICA DA BRALANDA NO DISTRITO DE GUARANI NOS ANOS DE 1970.

A Brasil Holanda, ou mais precisamente a Bralanda,era a maior fábrica de compensados da América Latina na década  de 1980,com sede localizada no município de Nanuque,no Estado de Minas Gerais ,mas com ramificações no Estado da Bahia e Espírito Santo.  
A Bralanda foi uma das principais responsáveis por promover o desenvolvimento econômico no sul da Bahia e incentivar o povoamento do território com suas atividades de desmatamento intensivo, abrindo espaço para a implantação da agricultura e pecuária na região e atraindo investidores do Espírito Santo e Minas Gerais. 
A  fábrica atraiu para o sul da Bahia funcionários de todo o país, pois o funcionalismo nesta empresa foi bastante cobiçado devido às condições oferecidas pela aos funcionários mais qualificados vindos de “fora” que recebiam bons salários e moradia gratuita em vilas construídas pela empresa, além de gozar de uma determinada “autoridade”, semelhante ao que acontece com os atuais funcionários das empresas de celulose na região.Consequentemente, a perda de vegetação nativa acelerou-se provocando profundas transformações geográficas, sociais e ambientais no território em um espaço de tempo relativamente curto. 
“Ela possuía uma enorme estrutura de produção que formava uma rede que começava no arrancar das árvores em mata fechada até os portos onde seguiam tacos, lâminas de compensado para móveis e outros, além de madeira bruta para abastecer principalmente o mercado europeu”. (Cerqueira Neto, 2001, p 87).
Quando a Bralanda se instalou no Sul da Bahia, encontrou um território de mata Atlântica nativa com uma grande diversidade de árvores nobres, animais, rios, afluentes e nascentes, além disso, encontrou populações nativas formadas por comunidades indígenas e pequenos agricultores que dependiam fundamentalmente dos recursos naturais locais, para a própria subsistência econômica, social e cultural. Estas populações sobreviviam da criação de animais, da pesca, caça, coleta e cultivo de pequenas lavouras, causando impactos extremamente reduzidos sobre o meio ambiente habitado.
Porém logo esse cenário foi sendo modificado  pela intensificação dos casos de violência no campo e degradação ambiental,pois,a empresa tem sido acusada de beneficiar-se da grilagem de terras que pertenciam a cerca de 100 famílias. explorando de forma predatória a atividade madeireira nos municípios de Porto Seguro, Prado e Mucuri e desmatando aproximadamente 40 mil hectares de mata Atlântica nativa, além de perseguir indígenas e trabalhadores rurais, cerca de 1000 pessoas que passaram a viver marginalizadas por capangas armados. São muitos os casos de espancamentos, prisões, desaparecimentos e dez pessoas assassinadas. Estas ações se transformaram em inquéritos policiais que hoje estão paralisados e arquivados na justiça, beneficiando a empresa acusada e anunciando a prevalência da impunidade sobre a lei
.De acordo com os dados do Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação da Terra Indígena Comexatibá (Cahy/Pequi) elaborado por técnicos da FUNAI, as ações irregulares da empresa Bralanda tornaram-se memórias constantes entre as comunidades Pataxós na região do Monte Pascoal, que vivenciaram os tempos de violências, perseguições e expulsões desde a década de 50 até a década de 90.
 As atividades da Bralanda cessaram parcialmente em 1984, quando na época praticamente não havia florestas suficientes para manter o modo de produção em larga escala implantado pela empresa. Porém, na área que hoje é ocupada pelo Parque Nacional do Descobrimento a extração madeireira continuou até a década de 90 de forma “moderada”, sobre a autorização do governo, e cessando definitivamente quando não houve mais condições de continuar explorando o território que se encontrava profundamente desmatado.
 No final dos anos 90, a Bralanda vende suas terras que somavam aproximadamente 200 hectares para alguns pecuaristas e para o IBAMA, que implantou no local o Parque Nacional do Descobrimento.
Diante do contexto apresentado podemos questionar a insustentabilidade do modelo de desenvolvimento econômico implantado na no Sul da Bahia envolvendo empreendimentos financeiros desta natureza, (a exemplo da Bralanda) em terras nacionais e devolutas com incentivos e concessões do estado, sendo que os benefícios gerados através de empreendimento dessa natureza tem sido mínimos, se comparados com os impactos negativos que são causados, em detrimento dos benefícios que estes recursos poderiam gerar para o país, se estivessem sendo regulados de forma sustentável e responsável sobre a gestão pública, e sobre a gestão das comunidades que dependem dos serviços ecossistêmicos territoriais para a sua reprodução social, física e cultural.
MAPA DO DESMATAMENTO DA MATA ATLÂNTICA NA COSTA DO DESCOBRIMENTO.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS 

Tendências e contradições na formação regional do Extremo Sul da Bahia entre 1950 – 2000. Dissertação (mestrado em economia). UFBA/BA. Salvador. 2000;
Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação Terra Indígena Comexatibá (Cahy/Pequi);
Município de Prado (BA). Leila Silvia Burger Sotto-Maior  Sara Braga i Gaia Portaria nº 1.455/PRES, de 29 de novembro de 2006 e complementares;
Sotto-Maior, Leila S. B. 2005 “Diagnóstico das Tis Barra Velha e Corumbauzinho” Relatório do levantamento de campo da situação fundiária das Tis do Extremo Sul da Bahia, CGID/DAF/FUNAI;
CERQUEIRA NETO, Sebastião P.G  Contribuição ao estudo geográfico do município de Nanuque – MG. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Federal de Uberlândia – MG, 2001;
[1] Sociedade Anônima Brasil-Holanda Indústria
[3] Júlio Rodrigues, fazendeiro que possuía uma grande propriedade rural chamada fazenda Caledônia, que ficava localizada onde hoje está o (PND) Parque Nacional do Descobrimento. Após uma suposta doação da propriedade para os indígenas da região na década de 70, a área passou a ser especulada pela BRALANDA, e muitos posseiros perderam suas terras sobre a justificativa de que Júlio Rodrigues havia vendido sua propriedade para a empresa madeireira;

Comentários

  1. Conteúdo muito bom, matéria de primeira! Faz ver que nosso Guarany tem História e não pode ser desprezado!
    Queria ver mais fotos!☺

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  2. Eu sou o autor da matéria e ela foi plagiada quase totalmente aqui. Ela foi publicada anteriormente (completa) nesta revista:

    https://www.ecodebate.com.br/2017/10/02/impactos-sociais-e-ambientais-da-bralanda-no-sul-e-no-extremo-sul-baiano-por-elissandro-dos-santos-santana-e-ramon-rafaello/

    E também nessa revista:

    http://desacato.info/impactos-socioambientais-da-bralanda-no-sul-da-bahia/

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